sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

PARA RECORDAR: AS ALDEIAS, do (antigo) LIVRO DE LEITURA DA TERCEIRA CLASSE

AS ALDEIAS
O João Rodrigues fora passar uns dias de férias com os primos, que viviam em Lisboa.
A princípio mostrava-se tímido, envergonhado da sua condição de rapaz da aldeia, perante o desembaraço dos meninos da cidade.
Ao terceiro dia, porém, já não havia braços mais fortes que os sues nas lutas que travava com os outros meninos a brincar, e tinha quase sempre na ponta da língua a resposta às perguntas que lhe faziam.
Uma vez calhou falar das «Janeiras» da sua aldeia, cantadas na escuridão da noite, ou por um luar mais lindo que todas as luzes da cidade. Os outros ficaram encantados com o que ouviam, e o Rodrigues nunca mais deixou de ser instado para dizer coisas da sua terra distante. Era então um nunca mais acabar! A matança dos porcos, as filhós e o madeiro de Natal, o recolhimento das pessoas durante a Quaresma, a procissão de domingo de Ramos, em que não faltava rapaz com o seu ramo de oliveira e alecrim, os bolos da Páscoa, os encantos das romarias, as malhas, a vida rude dos pastores e lavradores,  - tudo o João Rodrigues ia contando aos primos, cada vez mais interessados pela vida campesina.
Um deles chegou a dizer-lhe:
-Estou a ver que a tua aldeia é mais linda que a nossa Lisboa...
Mas o João Rodrigues respondeu-lhe acertadamente.
-Lá tanto não digo. A gente, quando aqui chega, fica deslumbrado com todas estas grandezas. Vós deveis gostar muito de Lisboa, que é linda na verdade. Eu também gosto, principalmente do Tejo e do Jardim Zoológico; mas não lhe tenho amizade. A minha aldeia, essa, trago-a no coração. É a minha terra!
O Tio Mário, que o ouvira, de passagem pela sala onde os pequenos se encontravam, não pôde conter-se que não dissesse:
-Gosto de te ouvir, rapaz. Sabes ser fiel ao amor que deves à terra em que nasceste. 
In Antigo LIVRO DE LEITURA DA 3.ª CLASSE, Editora A Educação Nacional, Lda, Porto.

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