segunda-feira, 13 de junho de 2011

A "PARADELA" DOU-TA EU!


Por Zé dos Anjos.

A Maria Paradela era uma mulher de armas, à sua volta tudo bulia. Ao marido,  pedreiro,  mestre muito requisitado na arte de emparedar xisto, passaram-lhe pelas mãos as  pedras com que se construíram muitas daquelas já velhinhas casas que hoje vemos lá na aldeia e noutras aldeias em redor.

Aqui viveu a Maria Paradela
Por isso a Maria Paradela (“Paradela” porque veio da aldeia com esse nome quando se casou com o Chico) e, com tantas Maria na terra, assim a apelidaram, acrescentando ao nome próprio o seu lugar de origem. Pela quase constante ausência (obrigado pela profissão) do marido ela era o homem da casa (como se diz na nossa terra). Sete filhos, 4 rapazes e 3 raparigas. A lavoura, os bois... era preciso fazer girar tudo, e não era fácil dobrar aquela rapaziada turbulenta. A vida era dura, por isso não podia haver baldas para ninguém. Bastava sentir, ou só pressentir, os passos da Maria Paradela para tudo girar. Ainda o nascer do sol vinha longe já a Maria Paradela fazia soar a alvorada lá em casa.

Mas se a hora de levantar era cedeira, também a do recolher tinha de o ser!
Armando, rapaz alto, porte atlético, um tanto desastrado (a generosidade-força em pessoa), era um dos filhos  mais novos.  Eram recordadas as vezes que o moço se zangava com os bois e de olhar fixo, penetrante, os agarrava pelos cornos, olhava-os fixamente, olhos nos olhos,   testa  contra testa e  lhes berrava com voz grossa e firme, capaz de fazer tremer as pedras: Olhai que aqui quem manda sou eu, ouvistes?!

Estava uma noite o Armando na tasca da aldeia, chovia que Deus a dava, ansioso para ir para casa que a hora do recolher já lá ía  e a mãe não tolerava atrasos, não seria  até de estranhar se, de um momento para o outro, ela ali aparecesse à sua procura, e isso, diga-se,  não convinha mesmo nada! Mas o raio da chuva não havia meio de parar e a ninguém apetecia sair com uma  zurbada daquelas. 

Vale de Juncal: Casa típica de xisto, em ruínas.
Será que a chuva está para parar? Questionavam ansiosos os presentes. “Ó Armando, chega aí à porta a ver se pára”, sugere um dos fregueses. O Armando, inquieto também para se ir embora, foi à porta,  olhou para o negro do céu de onde caía como caleiras (cada vez  chovia mais) e, perante a negativa,   exclamou: “E a paradela está boa” !. “Ah, meu malandro que a paradela  dou-ta eu !!! Soou, do escuro,  uma voz autoritária, qual oficial a reunir tropas.  Era a mãe,  a Maria Paradela que, no escuro da noite, sem chuva que a parasse, ali  estava ela à sua procura .
 
Grande mulher!


Nota do autor:  
Em homenagem à minha avó Maria Eugénia Alves (conhecida pela Maria Paradela)  e ao meu tio Armando.

1 comentário:

Anónimo disse...

bom dia queria pedir autorização para publicar este texto como tenho um blog sobre mesquinhata e sua região e como gostei deste texto. no qual lhe dou os parabens.
se por acaso a autorisação for negativa mande-me um email ze.ronda@hotmail.com que eu apago da minha pagina. obrigada
um abraço
zeronda