Por Zé dos Anjos
Muitos eram os Antónios lá da aldeia, mas não tantos como as Marias. Uns e outros eram, geralmente, conhecidos não pelos apelidos próprios mas sim pela extensão do nome do cônjuge ao seu próprio nome. Tínhamos assim, o Tonho Bernardete, o Tonho Heleno, o Tonho Carmelino, o Tonho Rosa, o Tonho Belo, etc. etc.
Muitos eram os Antónios lá da aldeia, mas não tantos como as Marias. Uns e outros eram, geralmente, conhecidos não pelos apelidos próprios mas sim pela extensão do nome do cônjuge ao seu próprio nome. Tínhamos assim, o Tonho Bernardete, o Tonho Heleno, o Tonho Carmelino, o Tonho Rosa, o Tonho Belo, etc. etc.
Tonho Clara era um homem magro, pequena estatura, pouco mais de 1,50m, seco de carnes, tez tostada pelo sol e pelo trabalho árduo do campo durante toda uma vida. Já teria ultrapassado os 50 anos. Homem de paz e boas vontades, por isso não é de estranhar que as Senhoras proprietárias do maior feudo da aldeia, D. Flora e D. Isménia, lá do seu inexpugnável palacete Século XVIII, regularmente o chamassem para vários recados do quotidiano.
Nesse dia vinha o Tonho Clara de mais uma tarefa de que as Senhoras o haviam incumbido. Chegou pelo comboio uma encomenda e foi preciso que o Tonho a fosse buscar. Mais de duas léguas de ida e volta até à estação. Cansado pelo peso da tarifa – mais de uma arroba - e passo apressado por causa da chuva que já lhe molhava os ossos (e não se via jeito de parar), com os pés a nadar dentro dos socos de pau bem revestido de brochas, curvado sob a roupa a pingar água que pesava que se fartava, esbaforido... eis como o Tonho Clara chega a casa da Senhoras.
-Viva Vossa Excelência Sr.a D. Isménia muito boa tarde!, saudou o Tonho depois da porta se abrir.
-Ó António, como é que vens!!! Exclamou a D. Isménia condoída!
-Saiba V. Exa. que foi o comboio que veio “atrasiado”! Justificou-se o Tonho pela demora.
-Óh António, entra, entra!
-Não Senhora, não senhora. Não é preciso...
-Entra homem, que estás todo molhado, ENTRA...! Ordenou a boa D. Isménia.
-Muito obrigado a V. Ex.as mas não é preciso, tem aqui a sua encomendinha!
-Anda, homem, ENTRA, vem aquecer-te um pouco á lareira, não sejas bruto, sai-me dessa chuva!
-Muito agradecido, mas não vale pena, muito obrigado a V. Ex.as.
-Ó seu grandessissimo BURRO.... ENTRA que ainda apanhas uma pneumonia...
-Então com sua licença...
Chamar ou não pelo nome! Eis a diferença!
Nota do autor:
Nota do autor:
Os factos e personagens deste texto são fictícias. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais é mera coincidência.
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