quarta-feira, 18 de julho de 2012

UMA MALHADA EM VALE DE JUNCAL, ANO DE 1970

Por cá, noutros tempos, uma das actividades agrícolas de maior relevo era a cultura de cereais, principalmente o trigo e o centeio. Cada pedacinho de terra era, na altura, cultivado, alguns deles eram tão difíceis de trabalhar devido ao declive e ou ao rochoso dos solos que só mesmo com enxada a tarefa era possível, lembramo-nos, por exemplo,  das fragas da ponte e tantos outros, onde eram mais as pedras e as ditas fragas do que a terra disponível.

Entre o fim do mês de maio e o fim do mês de junho era o tempo das ceifas. Como a mão de obra disponível na aldeia não era suficiente para tamanha tarefa em tão curto espaço de tempo, os habitantes tinham de socorrer-se de trabalhadores vindos de outras regiões em camaradas (grupos) que contratavam por dias determinados. Chamavam-se esses grupos, cá na aldeia, os minhotos, embora as suas origem não fosse propriamente o Minho, a maior parte vinha, se bem nos lembramos,  da região de Entre Douro e Minho e, também, da Montanha (região mais fria onde as ceifas eram feitas mas tarde). 

As acarretas, ou acarreja,  do cereal (transporte do campo para as eiras)  eram feitas com carros de tracção animal, juntas de burros, machos, mulas ou bois. Lembramo-nos do chiar desses carros com o peso da carga, tarefa começada desde manhã bem cedo, durante essas semanas. 

Nas eiras, que tinham sido bem varridas, eram feitas as medas (montes redondos ou retangulares, bem aparedados) à medida que os molhos do cereal eram acarretados. Posteriormente vinham as malhadas (debulha do cereal: extracção dos grãos). Para as malhadas, necessitava-se de um grande número de homens e de mulheres, os homens para operar as máquinas, desfazer a meda e fazer chegar os molhos de palha (que ainda incluía a espiga) à debulhadora, fazer os palheiros (montes de palha após malhada),  acarretar posteriormente  os sacos de  cereal  para as tulhas e outros trabalhos. As mulheres para retirar a palha - já desprovida dos grãos - à saída da debulhadora, levando-a até ao o palheiro (monte de palha) onde os homens a emparedavam e tratar da alimentação para todos. Estes trabalhos como exigiam muita gente, geralmente eram feitos à torna jeira, pelo que, a maior parte das pessoas passava por quase todas as malhadas da aldeia. 

Antes da introdução da debulhadora mecânica, as malhadas eram feitas com malhos (daí a denominação de malhada) que os homens manejavam, batendo na palha até soltar todo o grão. Nesse tempo, nos dias anteriores ao início da malhada, as eiras depois de bem varridas eram, na sua totalidade, cobertas com uma camada de bosta de boi, que após bem seca impedia que os grãos se perdessem. 

Com o evoluir dos tempos, e da tecnologia, foram sendo introduzidas novas técnicas e máquinas para simplificar e atenuar a dureza dos trabalhos. Entretanto, a área de cultivo foi diminuindo sempre até aos dias de hoje e actualmente, nas nossas aldeias,  não se cultiva qualquer tipo de cereal em quantidade significativa. Hoje todos esses campos estão incultos.

A cultura de cereal, até há algumas décadas, era muito grande e de grande importância na vida das populações desta região, pelo alimentos para as famílias geralmente numerosas, pelo realizar de algum dinheiro com a venda do excedente e pelo alimento para dos animais, também, com a palha, era obtida produção de estrume  em quantidades suficientes (fertilizantes necessários para outras culturas) e ainda, até, para poderem circular de inverno com alguma comodidade nas ruas da aldeia, porque, quando ficavam completamente enlameadas, eram espalhadas grandes quantidades de palha de centeio nas ruas, que depois recolhiam e levavam para os campos a qual, servia, também, como fertilizante (estrume).

A fotografia que aqui inserimos,  é uma relíquia,  mostra-nos uma malhada em Vale de Juncal. Estavamos no ano de 1970. Um grupo de pessoas que fez uma pausa no trabalho enquanto a fotografia era tirada.    Reconhecemos, com saudade,  algumas dessas pessoas. Gostaríamos de poder identificar alguns mais, pedíamos por isso a quem se lembre ou os reconheça o favor de no-lo comunicar. Obrigado.

  

Sem comentários: