"AH... ABEL, ABEL... SE EU FOSSE PAI…!"
Por Zé dos Anjos.Se um dia, ao passarem pela nossa aldeia, ouvirem este desabafo é porque aconteceu injustiça ou abuso merecedor de "reparo". Muitos que o ouvem - e até muitos que o dizem - não sabem o porquê daquela frase, que perdura nos tempos, usada como manifestação de agravo sentido ou de apontar e lamentar a ausência do merecido castigo para alguém.

Eu conto-vos (se tiveram paciência para me "ouvir"):


As moças, era vê-las, conforme a idade e o que a força de cada uma permitia, de cântaro à cabeça a “acarretar” água da fonte ou a/de caminho do rio para lavar a roupa. Os rapazes, sempre em passo apressado, quer no carro dos “machos” em comando acelerado da viatura, quer agarrados à rabiça da charrua a que mal lhes chegavam ou montados nos “machos”, em pelo, galopes desenfreados, tipo autênticos “índios americanos” em bom estilo farwest! Disciplina, rigor, trabalho... qual pelotão de cavalaria. E que ninguém se baldasse! Ti Abel era bom, mas duro na sua justiça, não perdoava.
Germano era um dos filhos, pela idade aí dos “do meio”, miúdo irrequieto, revoltava-se e indignava-se com injustiças. Gaguejava um pouco, o que lhe dava alguma graça. Pele escura, pés descalços (ai sapatos! Ou pão ou sapatos!), calças remendadas no rabo, esburacadas nos joelhos de “não parar quieto”, alça caída...

Aquela manifestação de falta de força e poder para inverter a situação foi ouvida pela vizinhança que a arrecadou nas suas memórias e ainda hoje, passadas muitas décadas, quando por cá se ouve, por cá consta ou por cá se testemunha alguma injustiça, ou ainda, se reclama castigo para qualquer abuso ou ofensa, logo alguém sublinha tal agravo e manifesta a sua revolta ou reprovação, exclamando: "AH... ABEL, ABEL... SE EU FOSSE PAI…!"!!!!
Ai, se eu pudesse mudar o mundo…! queria dizer-nos o Germano na sua ingenuidade e genuinidade!.
Nota do autor:
Foi minha intenção com este post retratar um pouco da vida das nossas gentes há umas décadas e, ao mesmo tempo, trazer o desabafo do Germano ás provações que o nosso povo está sentindo no presente, traduzindo aquele "Ah... Abel, Abel... Se eu fosse pai…!"!!!! num “SE EU PUDESSE…!”. Fica a minha homenagem ao meu tio Abel e o meu abraço agradecido aos primos por me autorizarem a publicar este post.
2 comentários:
O comentário referente ao Germano, seria para aqui, como é fácil de ver.
Tempos difíceis esses!!! Mas toda a gente diz:" belos tempos", mas não pela saudade da vida da altura, mas porque tinham menos uns anitos.
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